Sobre dia 13 de novembro de 2017: encontro com a Aldeia Maracanã



O chegar já é um desarrumar dos caminhos assegurados.
Marcamos e não deixamos um ponto de encontro.
O corpo fareja e acha. Segue e se encontra.
Pegamos o metrô (Lídia, Aline, Raquel e eu) e descemos no Maracanã e aguardamos Thaís.
Ela chega e seguimos.
Azul no céu que se abre luminoso sobre nossas cabeças.
Horizonte sinuoso de montanhas: de um lado a Floresta da Tijuca e do outro o Morro da Mangueira.
Aline pede pouso e sombra para ajustar o modo de como chegar, encontrar.
Seguimos e daquele ponto o corpo se alarga, não há tensão, só escuta, presença, desejo de encontro.

A paisagem do lado de lá da cerca chama, convida a olhar e a estar.





O espaço chama. O corpo à espreita.
“Tem gente lá dentro” diz Lídia e meu olho se ajusta à escuridão do lado de dentro da casa e eu vejo, sim, tem gente lá dentro.
O chão, o asfalto revirado para levantar do chão a terra: desterrar: revirar a terra: devolver terra à Terra. Desterro.
Encontro a terra do lugar que me chama.



















Sentamos na beira, no espaço entre a Aldeia e a cidade. Sinto o cheiro da terra, me misturo às suas entranhas que invadem a minha. Lembro da primeira casa que morei no Rio, em Bangu, lembro da minha infância misturada à terra...
Vemos adiante duas pessoas que devolvem um olhar tranquilo.
Aline levanta como que seguindo um impulso e segue em direção à eles.
Depois de algum tempo, Raquel e eu, depois Lídia e Thaís.
Primeiro contato.
A falta de água, a necessidade de receber doações, de que outras pessoas se juntem.
Korobo aparece e somos apresentadas à essa figura mágica que nos encanta com sua presença.






















Ele nos leva até o casarão, cede da aldeia.





Espaço-raiz. Espaço-memória. Espaço-abrigo. Espaço-re-existir.




Lá as árvores crescem pelas paredes, criam raízes por elas, buscando encontrar a terra.























As paredes recebem grafias – desenhos, protestos, sonhos - parecem pele tatuada por muitas histórias, peles-paredes que carregam memória, fendas-feridas de um tempo-templo que resiste.


As janelas se abrem para o céu, para a floresta, para o Morro da Mangueira, para o Maracanã.





















Espaço-pouso-abrigo-memória-raiz-encanto. Espaço-luto e espaço-luta.





Korobo nos leva pelos cantos daquele espaço e conta histórias.





Incrível sua narrativa tão lúcida que desfaz camadas, mostrando outras, num sotaque portunhol: “(...) Vocês são indígenas. Se vocês procurarem saber de onde é sua avó, bisavó, tataravó, você vai saber. Procura na internet, busca saber. (...) Se todo mundo se autodeclarasse indígena a terra voltava a ser nossa”. (...) “O mundo lá fora está corrompido pelo trabalho”.(...) “A ciência não vai resolver porque eles não acreditam nos espíritos. Pra eles Deus é o dinheiro”
Fazer xixi na raiz da árvore, se misturar aos seus elementos.
Descer as escadas com degraus soltos e ouvir Korobo dizer que para fazer é preciso coragem, com medo não dá para seguir.
























Entrar no canto da meditação e sentir o ar entrar pelas palhas, olhar o céu, sentir todo o corpo se misturar ao espaço. Pousar em si num pouso no espaço. Abrigo para estar e ser outro num tempo outro.










































As camadas de tempo remexem minhas entranhas, estamos reviradas. Difícil dizer depois de tanta vida outra sendo mostrada de modo tão amoroso. Há vida nessas terras que se abrem causando erosão nos dias difíceis de nosso tempo de agora. No intenso agora que se abre para nós brota vida, brota terra fértil e água doce por debaixo do asfalto.

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