Na vida, amaciar dureza* - Aldeia Maracanã


        O sol no dia 13 incidia à pino sobre os corpos e traçava trajetórias. Minha pele estava sensível às linhas solares fisgantes que me guiavam pelo espaço naquele dia. 
       O vapor que subia do asfalto denunciava o abafamento do chão enquanto superfície porosa e cheia de relevos, para dar lugar à camada plana e impermeável de pavimento. Parece que a tentativa nos espaços públicos é mesmo essa, deixar o chão liso, aplainado, achatado, apagado de sua marcas.
       Mas nesse dia o que encontramos pela Aldeia fez abrir, literalmente, buracos no asfalto para fazer novamente o chão respirar. Lufadas de ar pra inspirar a criação de novos gestos que resistam aos imperativos de um projeto de cidade colonizador. Os habitantes da Aldeia têm arrancado camadas de asfalto do terreno pra plantar árvore, horta, flor... e tudo floresce e resiste com muita força, como se o chão agradecesse.


           


Raquel Oliveira


*Amaciar dureza - Graveola e o Lixo Polifônico



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