do garimpo e da exploração de mãos miúdas ao gesto de dar-recebendo e receber-dando no Mural de trocas do Cosme Velho

Diante de tanta imagem, som e opinião, talvez o que de melhor eu possa fazer aqui e agora é sentar e observar. ressoar e estar com as pessoas e esse lugar.  sentar e observar o fluxo de trocas que acontecem. as cordas, os ganchos e os cabides. as transformações da paisagem... e as transformações que acontecem dentro de mim cada vez que alguém chega e deixa uma roupa à um desconhecido... e cada vez que alguém acha alguma peça que lhe seja cara. brilha pra mim o gesto paradoxal de dar quando se recebe e de receber quando se está dando. (Mariana Lemos e o c.e.m sempre tão vivos em meu corpo)

eu mesma me sinto a paisagem em transformação. eu mesma terra e água a pisar nesse chão com cuidado e parcimônia. sendo o chão da cidade, eu mesma deixo a cidade transparecer através do meu corpo.

cidade não como fora, mas como parte de mim, como eu mesma, eu mesma um pouco esse asfalto, essa rua, essa terra, essa poluição, esse ruído. Eu mesma essa roupa que se vai pelas mãos de uma desconhecida.  Experiência rica de romper com a lógica do garimpo e da exploração- exploração de mãos miúdas e de trabalho escravo que sustenta o acúmulo.

me é forte o desejo de parar de produzir coisas para serem vistas e consumidas, parar de querer interferir nos acontecimentos e ser com eles o que se está a ser a cada momento.

e escrever, cartografar... menos o movimento do ter, do acumular e do consumir e mais o movimento do ressoar, da amizade e do encontro.


Aline Bernardi propõe uma experimentação performática em ressonância com um varal de trocas que fica na rua Cosme Velho, em Laranjeiras. Onucleo topa e vibra curioso com a proposta.

Essa minha escrita nasce junto com uma entrevista do Ailton Krenak que circula pelas redes sociais.

Lidia

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