a parede como alojamento de palavras


o ar no campus do fundão é mais pesado. o esterno afunda, a respiração fica mais lenta.

nos concentramos na entrada do alojamento estudantil. vamos chegando mais, depois de já ter chegado, pousando e afinando.


afinar
a fim
afim


o estado de atenção da cartografia é um estado outro. o olho ouve, as mãos falam, os ouvidos tateiam, o nariz saboreia, a boca sente cheiro. os pés não são só (os) meus.

juntamos nossos corpos e guiadas pela thainá começamos uma caminhada pelo alojamento.


juntar corpos..
colocar corpos em lugares
não apenas estar


em silêncio, deixo as sensações me penetrarem 
vem empatia
indignação
enquanto observo
enquanto avançamos pelo espaço hostil
descuido
descaso
desprezo
materializados por toda parte
esfregados na nossa cara


thainá  nos convida a estar no seu módulo, nos espalhamos naquele espaço pequeno, ela começa a contar sobre sua relação com a escrita, de repente lá estou, ouvidos vidrados, entrando num canto do seu mundo, tomada pela beleza das histórias, das pessoas e dos encontros.

as paredes do módulo da thainá são diário, são quadro de avisos, carteira de identidade, caderno de anotações, mural de resistência, carta de amor, museu, espelho e palco. 

elas já são.

então meu impulso de escrita é interrompido, guardo meu gesto, sou jogada de volta pro chão sentindo que ali, comparado a outros espaços onde andamos escrevendo, as palavras precisam ser escolhidas com mais cuidado. a escrita ali não é descompromissada. porque ali as palavras ficam alojadas na Parede.

levo um tempo nessa reflexão, logo retomo o fluxo, me levanto, lápis na mão, me junto às outras, nossas escritas se juntando às que lá estão, dançando bem ali na Parede do módulo da thainá.





tamara rothstein

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