a superfície não é plana.


o chão não é plano. a parede não é plana. tem limite tem limite tem limite tem limite tem limite tem limite tem lim
tem marcas. tem relevo. tem história. impressa pelo tempo ou grafada por resistência.
é preciso ouvir as marcas do chão em que se pisa. conhecer ao passo que se pisa. com cuidado pro passo não se apressar. pro olho não tomar a frente do passo, do encontro do pé com o chão e querer colocar ali imagens que podem insistir em se precipitar e colonizar o espaço e o outro antes de encontrar. colocar o corpo nos espaços não pra ser visto, mas pra oferecer o corpo pras coisas. revelar relevos.
é um exercício. de uma vida, talvez.




da nossa caminhada pelo alojamento ou aló pro mais chegados - jardim, entrada, garagem, horta comunitária, gramadão até a praia, praia cheia de lixo, gramadão de novo, salão - até chegar no módulo da thainá ou melhor, no castelo de cristal, sinto a sensação de exercitar o corpo pra estar junto. é um exercício mesmo, sabe? o movimento de sintonização é intenso embora quase imperceptível. mas, procuro dar espaço também pra entender um incômodo que a visita me proporciona em me sentir meio estrangeira sem querer ser. inevitável. coisa esquisita essa de querer só estar junto e sentir as inscrições da história no corpo. pois é isso, de repente sinto a gravidade de modo diferente quando reparo o quanto essas marcas históricas produzem sensações tão vivas. as escrituras  pelas paredes do aló parecem revelar isso. necessidade de marcar no espaço o que a história marcou no corpo. ou o que talvez o que a história insista em apagar dos corpos… de todo modo me parece que a relação com as superfícies, do chão, das paredes, das peles são assunto por aqui e nos interessa também.
no castelo de cristal, thainá convida a gente pra escrita. na parede. encontrar com o que já tava lá. emprestar as superfícies. as nossas pras paredes, as das paredes pras nossas. pinto os buracos da parede. é tudo simples, sem cerimônia - aproximar, ler, apoiar, riscar - e ao mesmo tempo de uma elaboração de corpos e mundos que me comove.

se lá fora fica mais forte a sensação de que as paredes oferecem suas superfícies e gritam pelos corpos, aqui parece que tem uma espécie de fluxo parede-corpo-corpo-parede, numa promiscuidade de peles que se friccionam e se misturam.
talvez apenas maneiras diferentes de inventar corpos...


raquel

escrita a partir do encontro no alojamento estudantil da ufrj // 25/08/17

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