manifestar a miopia, experimentar a hipermetropia

Rio de Janeiro, 04 de julho de 2017.

...por aqui nosso chão ainda carrega, ora por umidade, ora por poções de água e lama, as  águas que recebeu da chuva de hoje cedo, o que me impede um pouco de um contato direto. Mas isso não nos afasta porque aí vem o cheiro úmido que toca a pele do nariz e já me sinto logo próxima. como intimidade é mesmo coisa do encontro…

repara num caminho: ~~CHEIRO de musgo que toca a PELE do nariz, se esparrama pelo corpo todo (parece mesmo da qualidade dos musgos saberem se emaranhar nas coisas), levam logo minhas MÃOS à busca de textura… veludo que cobre a pele do chão e se emaranha no meio da aspereza do cimento e das micropedrinhas e do que mais estiver pelo caminho… meus DEDOS reconhecem a aspereza estofada em verde.

os OLHOS seguem os dedos e encontram alguns tons e muita intimidade. brincam de proximidade e afastamento.

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o foco é o chão, o fundo é todo o resto. ~~

figuras ambíguas. manifestar a miopia, experimentar a hipermetropia. me movo nessa alternância. parece que as camadas me interessam. camadas de chão.

TERRACIMENTOMUSGOÁGUAEMPOÇADAlLIXOFOLHASSECASMUSGOPEDRINHASXIXIPAPELMUSGO

FOLHASSECASLIXOMUSGOCIMENTOTERRAXIXIMUSGOÁGUAEMPOÇADAPAPELMUSGOPEDRINHAS

PEDRINHASMUSGOXIXIÁGUAEMPOÇADALIXOTERRAPAPELMUSGOFOLHASSECASMUSGOCIMENTO

mover descascando o chão. há essa altura já estamos bem íntimos e como me lembro nem foi tão difícil. mas as miudezas sempre roubam minha atenção e quando vou ver lá estou eu tomada de proximidade com as coisas… é que parece que preciso disso pra dançar, sabe? acreditar nas miudezas. é que com o olhar próximo do chão vejo melhor tanto o chão quando tudo que se passa sobre ele, entende? preciso dessa intimidade.
preciso estar próxima.

deve mesmo parecer que tô recolhida, mas é que miudezas por vezes são confundidas com invisibilidades.

as imagens agora me aparecem tomadas da presença dele. olhos roubados pelo chão. olhos roubados de chão. às vezes é sobre apoiar o olhar, às vezes é sobre misturar mesmo.

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por Raquel O. Amaral // corpos que escrevem sobre o chão - ação dentro do festival pedras'17 // 
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