respiro fundo e vou.

Respiro fundo e vou.

Me lanço ao desconhecido, levo apenas meus contornos. E palavras! Muitas palavras que já se insinuam, desorganizadas, pedindo passagem. O frio e a expectativa me enrijecem o corpo.

Aquecimento do encontro. Thais, Raquel e Bruna me recebem com sorrisos calorosos. Começamos a sintonizar. Percebo meu estado de abertura, a escuta aguçada. Aline e Lidia chegam em seguida. Me deixo estar no grupo. Estou atenta às suas falas, olhares e trocas. Me deixo fluir com elas, curiosa, a imaginação me levando.

(17 de julho . encontro . liberdade . escolhas . caminho . caminhos)

Começamos a nos deslocar.. A cada passo vou amaciando, como é bom caminhar lado a lado, cada uma do seu jeito, todas na mesma direção. Cada uma, todas.

A Praça nos recebe. Tenho a sensação de que esperava por nós.. Está escancarada e se deleita com nossa presença. Se estica, lânguida, e nos revela seus cantos mais íntimos. Palavras são colocadas cuidadosamente por todos os lados. Ocupamos o espaço com nossa dança-escrita, e vamos plantando palavras no chão, na parede grafitada, na mureta de cimento, nos bancos, nos cadernos, no ar. Presenteamos a Praça com nossa escritura.

Gangorra, balanço, escorrega, brincadeira, liberdade. E me vem o gosto delicioso de possibilidades infinitas......

(Tenho 5 anos e estou na praça com o Nicolas, meu amigo do prédio, comendo banana em rodelas cortadas pelo seu pai.)

Transito entre o estar e a percepção do estar. Estamos conectadas num fluxo contínuo corpo-caneta-papel-chão-corpo-do-outro. Observo o grupo, gosto de olhar o seu mover. Nos olhares cruzados tem cumplicidade.

Me dou conta do prazer de estar ali. Do desejo forte que me move! Da alegria de achar brechas na vida. (E me pergunto: são brechas, ou será o próprio caminho, um pouco escondido?) Da delícia dos encontros entrelaçados. Palavras escorrem para fora de mim e levam a sensação de estar só.

A alegria me toma, flui até as pontas dos meus dedos, caneta, papel. Giz, chão. Ele, o chão.

O chão me suporta
Sempre  Me segura. 

Deixamos a Praça. Me sinto leve pela escrita descarregada. Pelas palavras plantadas. Saio com vontade de ficar. 

Tamara Rothstein - 4 de julho- corpos que escrevem sobre o chão. Programação do Pedras'17, c.e.m, Lisboa.

Comentários

Postagens mais visitadas