Na companhia de pratos
14.Mar.16
A Jogo da Bola gritou É! As
paredes indagavam: Qual caminho estamos indo? – Parece que Qual interessa menos
do que Como. Mesmo assim respondi, caminho das rachas, caminho de cachorro.
Hoje os meninos do tráfico mudaram de lugar e nos deslocaram também. Parecia
que a gente já sabia para onde ia até a rua dar uma rasteira bem dada. Precisávamos
continuar, não podíamos parar ali por entendimento dos invisíveis, mais do que
dos visíveis. Encontramos a pedra.
Eu sentei com um prato molhado ao
lado que olhava para todas as mulheres. Elas também estavam acompanhadas de um
prato e olhavam água a dentro.
Olhavam para fora sem tirar os olhos de dentro do prato. De dentro do olho
aquoso do prato se via fio dos postes, casa, muro, céu e uns pássaros. Eu estava na mira do prato ao lado, eu não
estava sozinha sendo mirada, eu e o muro fazíamos parte da mesma fitada. Eu
encontrava com o prato, num encontro de dar olhos, eu dando os meus, o prato
dando os dele e o muro não dava, mas participava.
Nesse entrever corpo-prato-muro a
cidade me ocupava, eu me percebi povoada das coisas ali, presença de pedra, de
muro, prato, portão, água escorrendo, pessoas coisificadas. Intensidades que
movimentavam a retina espalhada pelo corpo.
Olhando pelo olho do prato
percebi que as coisas ali eram muito olhudas, o muro era o mais silencioso de
todos, mas tinha o maior olho, via muito e há muito tempo. Percebo suas
memórias, reparo que tem. O movimento de estarcom as coisas move tudo junto,
eu-muro-lída-prato-laura-água-pedra-thaís-portão-ruth-meninos. Nunca é um
movimento individual, sempre um movimento de relação.
A relação tem condições para
acontecer. Tem demora. Tem silêncio. Tem
o olho do corpo todo implicado no encontro.
Nesse encontro a palavra era a relação, a palavra e o estar com o prato e
o muro. O entre se dava ali, na palavra traçada na folha. Era o transbordar do
olho do corpo todo no movimento da grafia no encontro com as coisas. A palavra
não dizia sobre a experiência, ela reverberava, estava no entre da relação com
a cidade, era uma dança em traço. Agora a palavra é partilha. ...
Bruna
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